Cidadania (do latim, civitas, "cidade") é o conjunto de deveres e direitos ao
qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive.
Dito isto, relato a minha
satisfação sentida como cidadão e profissional ao comparecer no início da segunda
semana de março a uma palestra em uma faculdade em Belo Horizonte. O objetivo,
segundo o convite formulado, seria trocar experiências sobre a aviação com as
turmas de pilotos e mecânicos em fase de formação.
Além dos assuntos técnicos, incluí
alguns comentários sobre as qualidades dos profissionais desse ramo de
atividades, destacando a disciplina. Palavra mágica essa, mas que quase ninguém
sabe exatamente o significado na prática.
Para sermos profissionais em
qualquer ramo de atividade ela é essencial, ainda mais na aviação onde
insistimos em desafiar a lei da gravidade diuturnamente.
Ressaltei que muitas vezes
precisamos contrariar nossas percepções e acreditar no mais importante dos
sentidos para que voa ou mantém a máquina que voa: a visão. Com ele conseguimos
contrariar as falsas impressões que nos são passadas pelos demais sentidos em
um voo sem visibilidade, por exemplo, e manter o voo e consequentemente a vida.
Mas para isso é preciso muita disciplina, principalmente no início da carreira e
daí a importância do meu testemunho.
Creio ter atingido o objetivo
proposto, apesar do horário e do aparente cansaço da plateia.
Como a semana estava repleta de
atividades, prossegui cumprindo em seguida minha rotina profissional que
incluía treinamento de voo em simulador na cidade de São Paulo. Esse treinamento serve para aumentar a
proficiência nas operações de voo como também aumenta a confiança pessoal. A
disciplina é um item necessário e presente também nesse treinamento para
cumprirmos tudo conforme previsto tecnicamente e não como “achamos” que deve
ser.
No sábado, o treinamento
realizado no simulador (virtual) foi realizado em operação real no litoral de
Vitória, em uma noite muito bonita, com a lua por nos ajudar na visualização
das áreas de pouso bem como também as espumas das ondas produzidas no
entrechoque com a plataforma e quando já bem a baixa altura da lamina d’água. A
falta das referencias visuais existentes no período do dia nos obrigam a usar
toda a perícia e habilidade nesta condição e também a estimular ao máximo todos
os sentidos, principalmente a visão.
Na manha seguinte, ao
prosseguirmos na nossa rotina profissional seguindo viagem para o sul,
embarcamos em um voo com escala em Congonhas. Aproveitei o trajeto para uma
relaxada tradicional e somente acordei com o ruído característico de quando o
trem de pouso da aeronave trava na posição baixado. Para minha indignação,
mesmo após o aviso proferido pelas comissárias sobre a necessidade de se manter
todos os aparelhos eletrônicos desligados, visualizo um passageiro (me nego a
denomina-lo de cidadão) sentado na fileira da frente manuseando seu celular.
Por alguns segundos pensei sobre a necessidade ou não de lembra-lo do aviso.
Julguei que o mesmo poderia estar em processo de desligamento. Como percebi a
atividade de digitação normal do mesmo, preparei-me mentalmente e recomendei
que atendesse a recomendação dada.
Em resposta, obtive a informação
que o mesmo estava na condição “off line”. Imediatamente contestei que a
instrução transmitida em português bem claro era para que fossem desligados
“todos” os aparelhos mesmo que em modo avião.
Em virtude da minha insistência e
por ter proferido alguma palavras que lhe demonstraram o tamanho da minha
indignação e as consequências legais e praticas de tal ato e ainda pela reação
dos demais passageiros ao redor, o dito cujo resignou-se e desligou o aparelho.
Após o desembarque e já no
terminal de passageiros, pude observar outras demonstrações absurdas da falta
de civilidade do nosso povo. A certeza dessa avaliação culminou com a constatação
da falta de papel toalha em todos os suportes do “toilette” sem que nenhum dos
presentes tivesse iniciativa de comunicar ou reclamar com os responsáveis por
sua reposição.
Ao chegar ao meu destino final,
fiquei a meditar sobre tais acontecimentos e ainda agora não sei o porque desse
comportamento não civilizado que contamina a quase todos nós.
Creio
que devemos repensar a educação como há alguns anos atrás, ensinando noções de
cidadania nas nossas escolas, assim como aprendi em todas as escolas que frequentei e pratico hoje em casa com os meus:
disciplina, deveres e por fim nesta sequência, como recompensa os direitos.
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BRASIL: nós somos vocês.
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