José Roberto Guzzo não tem dúvida: a democracia brasileira é
inviável com o nível educacional do nosso povo e a qualidade dos nossos
políticos e juízes — que formam um círculo vicioso.
Leia trechos da sua coluna na Veja (vale a pena ler a íntegra no
site da revista de 28/03/18):
“Como pode haver democracia num país em que onze indivíduos que
jamais receberam um único voto governam 200 milhões de pessoas? Os ministros do
Supremo Tribunal Federal, entre outras manifestações de onipotência, deram a si
próprios o poder de estabelecer que um cidadão, por ser do seu agrado político,
tem direitos maiores e diferentes que os demais. Fica pior quando se considera
que sete desses onze foram nomeados, pelo resto da vida, por uma presidente da
República deposta por 70% dos votos do Congresso Nacional e por um presidente
hoje condenado a mais de doze anos de cadeia. Mais:seus nomes foram aprovados
pelo Senado Federal do Brasil, uma das mais notórias tocas de ladrões
existentes no planeta. Querem piorar ainda um outro tanto? Pois não: o próximo
presidente do STF será um ministro que foi reprovado duas vezes seguidas no
concurso público para juiz de direito. Quando teve de prestar uma prova
destinada a medir seus conhecimentos de direito, o homem foi considerado
incapaz de assinar uma sentença de despejo; daqui a mais um tempo vai presidir
o mais alto tribunal de Justiça do Brasil. Outro ministro não vê problema
nenhum em julgar causas patrocinadas por um escritório de advocacia no qual
trabalha a própria mulher. Todos, de uma forma ou de outra, ignoram o que está
escrito na Constituição; as leis que valem, para eles, são as leis que acham
corretas. Democracia?”
E mais
“Analistas políticos garantem que o regime democrático
brasileiro ‘está amadurecendo’. Quanto mais eleições, melhor, porque é votando
que ‘o povo aprende’. A solução para as deformações da democracia é ‘mais
democracia’. O eleitorado ‘sempre acerta’. E por aí segue essa conversa, com
explicação em cima de explicação, bobagem em cima de bobagem, enquanto a vida
real vai ficando cada vez pior.
Não ocorre a ninguém, entre os mestres, comunicadores e
influencers que nos ensinam diariamente o que devemos pensar sobre os fatos
políticos, que um fruto que está amadurecendo há trinta anos não pode resultar
em nada que preste. Como poderia, depois de tanto tempo? A cada eleição, ao
contrário da lenda, os eleitos ficam piores. Esse Congresso que está aí, no
qual quase metade dos deputados e senadores tem algum tipo de problema com a
Justiça, é o resultado das últimas eleições nacionais. De onde saiu a ideia de
que as coisas vão melhorando à medida que as eleições se sucedem? Do Poder
Executivo, então, é melhor não falar nada. Da última vez que o povo soberano
foi votar, em 2014, elegeu ninguém menos que Dilma Rousseff e Michel Temer, de
uma vez só, para a Presidência da República. Está na cara, para quem não quer
complicar as coisas, que o ‘povo’ não aprendeu nada dos anos 80 para cá. Está
na cara que o povo, ao contrário da fantasia intelectual, não apenas erra na
hora de escolher; erra cada vez para pior.”
E também:
“Para ficar em apenas um caso de depravação política epidêmica,
tipo dengue ou zika, é só olhar durante um minuto quem a população do Rio de
Janeiro, em eleições livres e populares, escolheu para governar seu estado e
sua cidade nos últimos trinta anos. Eis a lista: Leonel Brizola, Anthony
Garotinho, a mulher de Anthony Garotinho, Benedita da Silva, Sérgio Cabral
(possivelmente o maior ladrão da história da humanidade), Eduardo Paes e, não
contente com tudo isso, um indivíduo que se faz chamar de “Pezão”. Assim mesmo:
“Pezão”, sem nome nem sobrenome, como jogador de futebol do Olaria de tempos
passados. Que território do planeta conseguiria sobreviver à passagem de um
bando desses pelo governo e pela tesouraria pública?”
E ainda:
“É uma perfeita palhaçada, também, falar em igualdade quando
existem no Brasil aberrações como o ‘foro privilegiado’ ou a ‘imunidade
parlamentar’. Os ‘constitucionalistas’ falam em independência de poderes,
garantias para a liberdade política, segurança para a democracia etc. Não é
nada disso. É pura safadeza enfiada na Constituição por escroques, de caso
pensado, para proteger a si próprios do Código Penal. Essa mentira não protege
só os políticos. Estende-se também a juízes, procuradores e ministros dos
tribunais de Justiça: ao contrário de todos os demais brasileiros, eles podem
cometer crimes de qualquer tipo, da corrupção ao homicídio, sem ser julgados
perante a lei.”
E por fim:
“Não existe democracia quando os governos são escolhidos por um
eleitorado que tem um dos piores níveis de educação do mundo — em grande parte
é um povo incapaz de entender direito o que lê, as operações simples da
matemática, ou as noções básicas do mundo em que vive. O que pode sair de bom
disso aí? O cidadão precisa passar num exame para guiar uma motocicleta ou
trabalhar num caixa de supermercado. Para tirar o título de eleitor, com o qual
elege o presidente da República, não precisa de nada. Pode, aliás, ser
analfabeto. Eis aí o Brasil como ele é. Em vez de garantirem as reais
liberdades políticas do brasileiro fazendo com que ele aprenda a ler, escrever
e contar, nossos criadores de direitos resolvem a diferença entre instruídos e
ignorantes dando o voto ao analfabeto. Mais: tornam o voto obrigatório e
garantem, assim, que no dia da eleição compareçam todos os habitantes dos seus
currais, cujos votos compram com a doação de dentaduras e com anúncios de
felicidade instantânea na televisão — pagos, por sinal, com o seu dinheiro.”
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